Eis uma história que deveria dar
testemunho de uma certa falta de discernimento no Superior Geral da FSSPX. Esse
acontecimento que sucedeu em 1995 é plenamente confirmado, pois está em parte
registrado no número 60 de Cor Unum, o boletim interno (e confidencial) da
FSSPX.
Havia então, na Suíça, uma “alma
privilegiada” que pretendia ter ligações com o Céu. Ela consignou seus
“escritos espirituais” ao longo de muitos anos, entre 1947 e 1969. Ela escreveu
centenas e centenas de páginas após haver fundado, supostamente inspirada pelo
Espírito Santo, “Os Lares de Cristo Sacerdote” [Les Foyers du Christ-Prêtre].
Foi o Sr. Pe. Lovey quem a introduziu a Dom Fellay, depois de fazer a
descoberta dessa “mensageira do Céu” em 1995. E Dom Fellay ficou deslumbrado
com ela, como se pode ver pelas palavras dele no número 60 de Cor Unum. Sem
maiores investigações e baseando-se unicamente na sua própria intuição, o
Superior Geral acolheu esta “bela obra” nestes termos:
“A obra aqui apresentada, se bem
que pertença à ordem da revelação privada, se enquadra perfeitamente com nossos
estatutos, e também com o combate atual. [...] Há algo de rebarbativo na
superfície, mas dedicando apenas um pouquinho de tempo em arranhar um pouco,
jorra daí um tesouro de graças, de que somos testemunha. Revestida em várias de
suas partes da marca da Igreja, ela nos parece revestida suficientemente de
autenticidade para que não hesitemos, como Superior Geral, em aceitar com
gratidão o dom que nos é oferecido e em transmitir-vos aqui um aperitivo deste
tesouro.” (Suplemento ao n.º 60 de Cor Unum)
Mediante esse ato, Dom Fellay
desejava dar à espiritualidade da FSSPX uma orientação totalmente diferente
daquela querida pelo Fundador, Monsenhor Marcel Lefebvre. É assim notável que
objetivamente o Superior Geral estivesse, então, inteiramente fascinado por
essa estranha personagem, ao ponto de querer impactar na sua espiritualidade
toda a FSSPX e todos os seus confrades.
Contudo, a inverossímil fraude
foi descoberta por dois sacerdotes, os Srs. Pes. Ortiz e Joly, que, sem
prevenir a “profetisa”, a visitaram e encontraram, estupefatos, numa posição
das mais desconcertantes para uma santa alma privilegiada por comércios com o
Céu: ela estava, com efeito, “piedosamente” instalada, de calça “jeans”,
cigarro à boca, diante da sua televisão ligada (a história não nos diz a que
programa se assistia).
O escândalo foi revelado, e Dom
Fellay foi um pouco ridicularizado por isso. Ele tentou abafar o caso
destituindo o Pe. Lovey, que havia feito ele encontrar a “dama”, mas que foi
bem depressa reintegrado, pouco depois.
Conclusão: Sem querer polemizar
além da conta sobre o que é, afinal de contas, uma “história antiga”,
pareceu-nos importante expor este relato dos fatos em vista das acusações que
foram alegadas para justificar a exclusão de Dom Williamson (notadamente sua
afeição por uma autora posta no Índex: Maria Valtotra, o que foi explicitamente
escrito na circular do Sr. Pe. Thouvenot de 22 de outubro de 2012). Esta
história permite esclarecer a uma luz mais objetiva o estudo da presente
“crise” da FSSPX… Recordemos ainda que Dom Fellay respondeu às objeções dos
três outros bispos contra o acordo prático escrevendo-lhes que eles carecem de
sobrenatural. Poderíamos muito bem assinalar aí, com precisão, um dos elementos
maiores da “crise”: um certo sobrenaturalismo desligado dos fundamentos da
Prudência natural e sobrenatural, fazendo pouco caso da Realidade racional e
teológica.
Thomas Audet
Pour Stageiritès
A alma privilegiada
suíça e o “sobrenaturalismo” de Dom Fellay? (26.out.2012) Thomas Audet.
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PARA CITAR ESTA TRADUÇÃO:
Thomas AUDET, A alma privilegiada suíça e o
“sobrenaturalismo” de Mons. Fellay?,
2012, trad. br. por F. Coelho, São Paulo, out. 2012, blogue Acies Ordinata,
http://wp.me/pw2MJ-1yP
de: «L’âme
privilégiée suisse et le “surnaturalisme” de Mgr Fellay?», in :Stageiritès,
26 octobre 2012,
http://stageirites.blogspot.fr/2012/10/lame-privilegiee-suisse-et-le.html
CRÍTICAS E CORREÇÕES SÃO BEM-VINDAS:
f.a.coelho@gmail.com